quarta-feira, 16 de março de 2011
Estado Novo: Regime autoritário, conservador e corporativo que vigorou em Portugal de 1933 a 1974, inspirado na figura do seu fundador -António de Oliveira Salazar. A grande influência de Salazar no regime levou a que este se designasse também por salazarismo.
Cartaz “A lição de Salazar” de Martins Barata, 1938
Nos anos 30, o Estado aspirava a regenerar e a formar os espíritos de acordo com certezas indiscutíveis. A encenação da propaganda ou a “política do espírito” começava de forma simples na sala de aula, nos tempos livres, na assistência à família, nas organizações corporativas profissionais e nas milícias da juventude. Nos comícios, nas paradas e nas exposições, aspirava-se a um quotidiano enquadrado, organizado e vivido no novo espírito do regime de acordo com os seus paradigmas ideológicos.
A educação nacional pretendia criar assim almas pacíficas, disciplinadas e obedientes, qualquer que fosse a sua ocupação.
Valores salazaristas presentes no cartaz
- Deus, Pátria/História, Autoridade, Família, Trabalho/Dever.
O cartaz apresenta o mundo campestre, a família modesta, um mundo social feito de analfabetos com excepção do filho que já estuda. É o sector primário ainda tão forte nos anos 30. Exprime uma sociedade tradicional onde ainda não chegou a revolução industrial. Imóvel, rotineira, sem cultura, tradicional e religiosa. É o contrário da cidade, um mundo cheio de perigos e de tentações, de homens desenraizados porque estão longe da sua terra natal. “Cultivar um pedaço de terra próprio, é o grande inimigo da taberna”, dizia-se. Cavando e cantando se fugia às tentações do mundo citadino.
Aqui não há sobressaltos, agitações nem arruaças sindicais, não há sequer jornais que poderiam trazer ideias nefastas, está tudo na mais perfeita ordem. É a apoteose da calma, da gente pobre mas alegre e conformada ao seu dia-a-dia.
A vida no campo
O Manuel António desde pequenino começou a gostar da vida no campo.[...]
Mais tarde, quando já andava na escola, aproveitava as horas livres para ir fazer companhia ao pai e ajudá-lo nas fainas da lavoura.
Às vezes, na hora da labuta, ouvia a voz do pai a cantar atrás dos bois enquanto o arado ia rasgando a terra. As margaças e o terrunho ainda fresco lançavam no ar tépido aromas sadios; e nessas ocasiões o Manuel António, extasiado e pondo os olhos no pai, sentia crescer lá dentro de si uma grande vontade de ser lavrador.
Quando chegou à idade, foi para soldado. Voltou à sua terra cheio de saudades do pai, dos bois e das lavradas. Casou. Tem hoje um rancho de filhos. Trabalha e é feliz. Na aldeia todos o respeitam.
Livro de Leitura da 3ª classe
A Joaninha
A Joaninha, logo que se levanta, lava-se, penteia-se, veste-se e calça-se.
Quando vai dar os bons dias aos pais, quase sempre a mãe lhe compõe um pouco melhor o laço da cabeça.
Reza as suas orações, almoça e vai para a escola.
Pobrezinha, mas muito lavada, vestido sem nódoas nem rasgões, é um
encanto vê-la, de olhos pretos, pele morena e cabelos lisos.
À tarde, faz os trabalhos indicados pela sua professora e ajuda a mãe nas lidas caseiras. No arranjo da casa é desembaraçada, e já consegue dar beleza às coisas.
Na cozinha faz, quando é preciso, qualquer refeição de que todos gostam.
Depois da ceia, limpa o calçado, arruma na saca tudo o que no dia seguinte há-de levar para a escola, dá as boas noites a todos e, depois de se encomendar a Deus, deita-se e adormece muito sossegadamente.
Livro de Leitura da 3ª classe
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